Capítulo 1
Aquela madrugada sem fim começou na sexta-feira. Saí do trabalho mais cedo para pegar o ônibus na rodoviária de Porto Alegre e chegar em Balneário Camboriú o mais cedo possível. Mas a chuva castigava o centro de Porto Alegre, principalmente sua rodoviária que já estava interdita quando passei de uber. A única opção era dar meia volta e retornar à Canoas, onde a água ainda não havia subido. A noite chegou, a chuva persistiu e às 4 horas da madrugada de sábado a vizinhança já se movimentava tentado tirar os carros das garagens. Procuramos a escada e colocamos colchão e o que deu tempo para o telhado. A água tinha pressa, nós não.
Com bastante calma seguimos com água e algumas bolachas toda família originária. Jesoaldo, Fátima, Émerson, Éderson, os cães Bidu e Marley. Aos poucos ficávamos em algum lugar específico para calcular o tempo que água levava para alcançá-lo. Estipulamos o cadeado do portão da frente como limite aceitável para começarmos a nos preocupar.
Atingiu cedo e passou com.sobras os limites. O primeiro deles, as portas dos dois carros na garagem. Logo em seguida, ao sair na tentativa de fuga pelas águas, passou do meu peito a altura da maré de água fétida e fria. Não daria pé para quem tivesse menos de 1.65m e os perigos só aumentavam. Em seguida helicópteros sobrevoavam incessantemente nossas cabeças. Aos poucos fomos abanando pedindo socorro fora das redes sociais que já estavam sobrecarregadas. Os helicópteros nunca desceram.
Os salvadores começaram a surgir, barcos de pesca, canoas, jets e tudo que boiasse serviu para salvar alguém.
Então as cenas ficam mais pesadas, multidões passam em frente recolhidas de barcos. Crianças, idosos, gestantes e animais nadando ao lado.
De repente milhares de tonéis azuis, antes com óleo e outros produtos agora se acumulavam na correnteza ainda forte em direção a linha do trensurb.
O tempo passou lentamente até notarmos que ao agradecer a ajuda, ao implorar por ajuda e sempre ouvirmos: "já vamos pegar vocês, ainda tem muita gente sem telhado para ficar" não seríamos resgatados naquela tarde já eram 16horas.
Já estávamos a 12 horas em cima do telhado implorando ajuda. Na última tentativa, implorei para levarem pelo menos meus pais. A água continuava a subir e eles não suportariam nem a noite fria nem às correntezas com todo tipo de objetos sendo arrastados e os tonéis azuis.
Ao se.compadecer à nossa súplica o caridoso piloto do barco, talvez da PF talvez emprestado. Reconduzir sua embarcação à frente da casa que já foi de meu avô e passamos um a um por cima dos fios de eletricidade, pois o nível da água já passará do telhado da frente da casa.
Imaginem este barco. Aínda buscamos mais uma vizinha que também implorava por resgate.
Seguimos no barco até encontrar terra firme. Foi o trajeto mais longo de todos. Maior que o fim do filme Platoon na saída de helicóptero.
Assim chegou o sábado 04.05.2024
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